Rodolfo Chermont

Jean Pierre (esquerda) e Chermont na conquista do Paredão Patrick White. Acervo: Jean Pierre.

Pouco se fala sobre Rodolfo Chermont. Talvez por sua vida ter sido permeada de polêmicas que se arrastam até os dias de hoje. Chermont, poucos sabem disso, começou a escalar no CERJ, tendo o Garrido como um grande amigo. Ele bandeou-se pro CEC entrando na mítica escola de guias comandada por Jean Pierre Van der Weid e Jadir de Barros Santiago (também ex-CERJ) onde foi formada uma geração de excepcionais escaladores e todos menores de idade!

Estamos falando do final dos anos 1960 e início dos 1970 onde o CERJ havia perdido a disputa da hegemonia da escalada nacional pra molecada do CEC. Chermont fez grandes cordadas com ícones da época como Penacho, Cristiano Requião, Jean Pierre, Amaral, Paulista, Zé Carlos, Rogério de Oliveria e Heckel Capucci. A garotada do CERJ, mesmo sendo uma heresia na época, escalava também com ele. Eram nomes como Claudinho, Pelle, Carrozino. Com certeza neste parágrafo deixei de mencionar outros importantes nomes, peço desculpas…

Chermont já tinha sido um pioneiro no discurso sobre o treinamento físico e técnico para melhorar o desempenho na pedra, também começou o que hoje chamamos de MEPA* e já pensava no profissionalismo da escalada. Usava grampos de ¼ podendo assim fixar suas proteções em menor tempo.

Ele conquistou lendárias e desafiadoras vias para época como o Sombra e Água Fresca (Irmão Menor do Leblon), Patrick White (Irmão Maior), Roda Viva (Babilônia) e a até hoje temida via da Foca nos Cinco Pontões (ES). A conquista do C-100 (Pedra da Gávea) é uma homenagem ao Grupo dos 100, criado por ele: cada escalada em solo contava pontos. Quem alcançasse 100 pontos, entrava pro imaginário clube…

Aí começa a sua viagem sem volta e que para alguns, foi o uso de drogas e para outros, experiências mal sucedidas na psicanálise. Ele começa a se afastar dos amigos e da escalada. O fato é que, em 1978 e com apenas 25 anos, Rodolfo se suicidou. Suas escaladas em solo, o uso de grampinhos de ¼ em suas conquistas eram já tentativas contra a própria vida ou era apenas um grande escalador exercendo seu talento?

Finalizo o texto** com as palavras de Rogério de Oliveira, um de seus melhores amigos e que ficou com ele até o final de sua vida: “Ele era o movimento na pedra. Era bonito vê-lo escalar, sem baudrier, encordado na cintura, com aquela bota Vibram frouxa nos pés”.

*MEPA: Máxima Eliminação de Pontos de Apoio. Nome que André Ilha batizou em seu catálogo de escaladas de 1984 e dizia a data que cada via fora “mepada” ou seja, escalada sem usar grampos como ponto de apoio.

**Extraído do Boletim do Clube Excursionista Carioca de fevereiro de 1997.

Waldecy Mathias Lucena.
Autor do livro História do Montanhismo no Rio de Janeiro.