Direito Autoral e Pluralidade de Estilos

Os montanhistas não são iguais. Não só em relação à aparência física, força muscular ou habilidade técnica – cada um tem uma forma peculiar de enxergar o mundo. E isso depende não apenas dos órgãos de sentidos, mas também de todas as experiências, crenças, valores, atitudes e cultura que se adquirem na vida.

Morro da Moganga, Maciço da Tijuca

Não é à toa que existem tantas formas distintas de esportes de montanha. Algumas valorizam o aspecto de cinestesia, habilidade, técnica e força, procurando minimizar artificialmente os perigos objetivos. Outras dão mais importância ao lado da aventura e enfatizam a capacidade de planejamento e organização, a velocidade de progressão e fuga, a resistência ao estresse, a tolerância ao risco e à exposição, valendo-se mais de habilidades pessoais dos praticantes para redução do risco do que de artifícios tecnológicos.

A opção por uma ou outra, ou mesmo por um sem número de formas intermediárias, cabe exclusivamente ao indivíduo. Cada um escala por uma razão específica, aproveitando a montanha de uma forma bem pessoal. Cabe ao montanhista escolher o desafio apropriado, não só às suas habilidades, mas também à sua visão de mundo, à sua capacidade de suportar o risco e ao seu desejo de aventura.

O montanhismo mundial e em particular, o Brasil, adotaram o direito autoral como forma de assegurar a pluralidade de estilos. Essa opção foi feita visando a um equilíbrio entre as diversas formas de conquistar e escalar e para evitar que um determinado estilo prevaleça sobre os demais. Os montanhistas entendem que cada um deverá praticar a escalada que achar mais adequada ao seu gosto. Desta forma, faz-se necessária a existência de vias de escaladas dos mais variados tipos.

O presidente da União Internacional de Associações de Alpinismo – UIAA, o escalador inglês Ian MacNaught-Davis, remeteu para uma recente Assembléia Geral da entidade uma carta contendo uma série de questões a serem debatidas ou respondidas, conforme o caso. Como resultado desta Assembléia, surgiu o livreto “To Bolt or Not to Be”, cujo texto principal, em inglês ou em português, pode ser encontrado no site da FEMERJ (ou em portugues nessa mesma seção de Artigos no link To bolt or not to bolt). Neste texto, onde é expressa a opinião oficial da mais elevada organização do nosso esporte e cuja leitura recomendamos a todos os interessados no tema, a UIAA deixa bem claro ser totalmente favorável à pluralidade de estilos na escalada, bem como ao respeito à vontade do conquistador.

A ética no montanhanhismo consiste, portanto, em reconhecer e respeitar a diversidade de formas de se curtir a montanha. Ninguém deve querer impor aos outros o nível de proteção que considera adequado, tampouco a sua filosofia de segurança, pois a pluralidade de estilos é uma das maiores riquezas dos esportes de montanha.

Feitos estes breves esclarecimentos, reiteramos estar, como sempre, abertos a qualquer debate, inclusive através de nossa lista de discussões na internet, onde muitos assuntos relevantes já foram abordados. Em nosso site encontram-se as dicas de como entrar para aquela lista, cujo acesso é livre e gratuito.

Diretoria – FEMERJ.